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   Barcelenses, uma raça em vias de extinção! 

Acho que até à passada segunda-feira nunca me tinha sentido tão envergonhado por ser Barcelense. Estou a falar concretamente do debate televisivo da RTP1 “Pros & Contras” onde Barcelos e a sua maternidade foram temas centrais de conversa.

Para os menos atentos, o debate foi sobre o encerramento da maternidade do Hospital de Santa Maria Maior de Barcelos. Alegadamente, o mesmo não possui condições técnicas, nem pessoal suficiente para poder operar em segurança, nem tão pouco partos diários suficientes que justifiquem a existência daquela unidade.

Barcelos apareceu representado pelo excelentíssimo Presidente Reis e por uma respeitável senhora doutora obstetra (cujo nome sou incapaz de pronunciar, de facto!) que ocupou um lugar de destaque entre os ilustres do painel.

Oh meus amigos, mas que grande embaraço que foi ouvir a senhora obstetra a falar. Com os nervos à flor da pele, mais parecia uma menina de 6 anos perante o reitor da escola após ter partido um vidro. A apresentadora do programa, apercebeu-se disso tão rapidamente que a impediu de falar, bem até ao final do programa. É que na televisão cada segundo custa dinheiro e sendo a RTP uma televisão estatal, parece-me justo não desperdiçar o dinheiro dos contribuintes de uma forma tão inglória.

E o nosso presidente? Oh meus amigos... mas que vergonha tão acentuada que senti. O dito trazia um conjunto de argumentos na algibeira que acabaram, todos eles, por lhe rebentar, literalmente, na cara. O primeiro de muitos foi:

- Barcelos não tem um número de partos suficiente para se manter aberto, mas há outras unidades que também não o têm e vão permanecer abertas. Porquê?

A questão do número de partos tem sido central em todo este debate. Sabendo que uma sala de partos custa ao estado 5000 euros por dia, é compreensível que na situação económica em que vivemos, é fundamental optimizar os gastos. Uma vez que há uma média de 2-3 partos por dia em Barcelos, cada um custa ao estado (i.e. a todos nós) cerca de 2500 euros. Para além disso, a razão pela qual Barcelos não tem o número de partos suficientes deve-se em parte à politica do presidente da câmara, que está mais preocupado em levar canos de esgoto até à casa-ilegal-mais-isolada-no-monte em vez de proporcionar condições de habitação, qualidade de vida e emprego para as camadas mais jovens se fixarem no concelho. O êxodo de Barcelos tem sido imenso. Caso não tenham reparado, quem vai estudar fora, raramente regressa.

Mas afinal, porque é que os hospitais que também não possuem o número mínimo de partos, vão permanecer abertos? A resposta é, porque o hospital mais próximo ou está sobrecarregado ou fica demasiado longe.

- Alguém que habite numa aldeia mais longínqua do centro de Barcelos pode demorar cerca de 40 minutos a chegar ao hospital de Braga.

Eu costumo dizer que há dois tipos de pessoas, aquelas e já trabalharam no Porto e as que ainda não! Toda a gente que já tenha enfrentado o trânsito de uma grande cidade sabe que demorar 40 minutos a chegar ao hospital central é, no mínimo, recordista. O argumento não é válido pois Barcelos está ligado a Braga por uma auto-estrada. Ir de Barcelos a Braga demora cerca de 10 minutos. Quem mora longe do centro, paciência, habitue-se! Há muitas outras coisas que lhe vão demorar muito tempo a fazer, como ir às compras, ao cinema, ao médico, comprar roupa, levar os filhos à escola... Viver no campo é um luxo, ou ainda não repararam nisso?

- O nosso hospital tem todas as condições necessárias!

É um facto conhecido de todos os profissionais de saúde, que existe uma grande escassez de pessoal técnico neste domínio. Os poucos que existem acabam por fazer serviço de tarefeiro em vários hospitais ao mesmo tempo. A solução passa portanto por centralizar esse pessoal num único hospital.

Apesar da senhora obstetra ter afirmado que o hospital de Barcelos possuía todos os meios necessários para operar em segurança, quem conhece a realidade sabe que isso não justo. A própria enfermeira do Hospital de São Marcos assim o confirmou durante a sua magnífica intervenção. Especialmente durante os meses de verão, o número de grávidas transferidas para o Hospital de Braga atinge valores disparatados.

Mudando de assunto e para finalizar esta crónica que já vai longa… e a claque que os intervenientes de Barcelos levaram para o programa? Meu Deus, que vergonha… foram necessárias várias ameaças de expulsão por parte da apresentadora de televisão para que os mesmos ganhassem consciência que não estavam a assistir a um jogo de futebol do Gil Vicente.

E no final? Depois do Reis ter tentado tudo que trazia no bolso… lança-se em acusações infundadas, tentado insinuar que a clínica privada do senhor-bem-alimentado-que-integrava-o-painel não possuía todas as condições necessárias para a realização de partos, nomeadamente, um anestesista, duas parteiras, dois médicos, uma sala de reanimação de recém-nascidos, etc. Ainda me lembro da resposta do senhor-bem-alimentado… sim, sim, sim, sim… temos.

E aquela intervenção superlativamente infeliz, de que o hospital iria fechar para alimentar o lobby das construtoras de Braga? Meu Deus… tamanha infelicidade. O Ministro da Saúde aplicou-lhe um puxão de orelhas tão grande que dá-me a impressão que ainda hoje o Reis as deve sentir bem quentes e vermelhas.

Está visto que estes senhores, habituados a nadar no aquário, pensam que podem ir para a televisão nadar junto dos tubarões sem fazer devidamente o seu trabalho de casa… oh meus amigos, mas que grande embaraço que aquilo foi…

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