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   Urbanismo sem retorno... 

Num destes dias, estava eu a conversar com um engenheiro civil recém-licenciado quando este me confessa abertamente, em público e sem qualquer pudor, que defendia positivamente o urbanismo praticado em Braga sob a alçada do autarca Mesquita Machado. Fiquei perplexo, embasbacado e olhei em redor para ter a certeza que mais ninguém tinha escutado a desbragada afirmação. A minha reputação em Barcelos é já tão desmesuradamente pequena que, ao ser visto ao lado de tamanho estulto, poderia esvair-se por completo. Mas a conversa continuou, afirmou-me que achava que esse seria o melhor plano para o desenvolvimento da cidade de Barcelos e que essa era uma evidência incontornável.

Acontece que Barcelos sempre foi uma extensão da cidade de Braga, tanto no que diz respeito à política praticada, como nas atitudes dos seus agentes sociais. Só assim se pode justificar a tremenda falta de respeito que a nossa autarquia tem pelo rio Cavado. A Câmara Municipal de Braga não possui uma política de requalificação da sua zona ribeirinha, por isso, a Câmara de Barcelos, por imitação, também não a tem. Por coincidência, e apenas por coincidência, a cidade de Braga não é abençoada por um rio, ou pelo menos, algo que possa ser merecedor desse título e, por isso, nesse aspecto, os dirigentes de Braga estão desculpados.

Mas, voltando ao urbanismo, a construção descontrolada de urbanizações continua a ser a política seguida em Barcelos (e em Portugal de uma maneira geral). Por vezes questiono-me de onde virá tanta gente - a quantidade da oferta de habitação vertical cresce todos dias, no entanto a população é a mesma desde que tenho memória.

O problema em si não reside no facto de as pessoas viverem em prédios. O problema reside no facto de não existir absolutamente nada que ofereça qualidade de vida a essas mesmas pessoas. O que é feito das zonas verdes? O que é feito dos locais seguros para as crianças brincarem? É triste que se comprem apartamentos cuja oferta em temos de vistas seja o prédio contíguo ou o parque de estacionamento.

O urbanismo praticado em Braga vai ser pago de uma forma muito cara e dentro de muito pouco tempo. Constate-se o aumento exponencial da prostituição (basta abrir um jornal e passar os olhos pelos classificados), o trânsito crescente que invade diariamente as magníficas circulares que cortam literalmente a cidade a meio e que são responsáveis pelo maior índice de atropelamentos do país, os assaltos violentos a pessoas que ocorrem praticamente todas as semanas, o crescimento do culto dos centros comerciais e do transporte individual. Mas isto é apenas o início. Dentro de poucos anos, as magníficas urbanizações irão perder a sua aura devido ao inevitável envelhecimento dos materiais e os jovens casais que hoje em dia lá habitam irão migrar para outros locais, o que provocará um evidente baixar das rendas habitacionais. Essas urbanizações serão então povoadas por legiões de desfavorecidos, transformando esses locais em verdadeiros depósitos de humanos que somente servem para fomentar a marginalidade.

Ao contrário do que se possa pensar, este não é o lado negro e inevitável do crescimento de uma cidade. Este é apenas o lado negro que resulta de uma política obtusa e desregulada. O que mais me entristece nisto tudo, e voltando à minha conversa com o tal engenheiro civil, é o facto de se tratar de um recém-licenciado. Um recém-licenciado devia ser um puro, um académico e, no entanto, já se encontra, à nascença, tão poluído como os vigentes alarves que se alimentam este tipo de políticas. Como sou um utópico, acredito sempre que vão ser as novas gerações a concertar o que os nossos pais, pobres incultos, estragaram. Choca-me, por isso, constatar que ainda existem pessoas que se orientam pelos mesmos pensamentos retrógrados e ingénuos que em nada engrandecem a sua curta presença neste mundo.

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